Atualmente, cerca de 65% da energia elétrica consumida no Brasil é gerada em usinas hidrelétricas, enquanto cerca de 28% vem de usinas termelétricas. Há algumas décadas, a proporção de energia obtida de usinas hidrelétricas já chegou a 95% do total. Por que houve essa mudança? Qual a melhor proporção entre hidrelétricas e termelétricas?
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A energia elétrica que chega aos consumidores no Brasil é gerada em um conjunto de usinas que conta principalmente com dois tipos de plantas de geração: as usinas hidrelétricas e as usinas termelétricas. No Brasil, existe um complexo sistema interligado que conecta usinas de geração e consumidores de todos os tipos ao longo de uma boa parte do território brasileiro.
O conjunto de usinas em operação e que fornecem energia aos consumidores é denominado como “matriz energética”. A matriz energética brasileira conta, além de hidrelétricas e termelétricas, também com usinas nucleares e mais recentemente com usinas eólicas e com usinas solares fotovoltaicas. É melhor ter uma matriz diversificada do que uma matriz baseada em apenas um tipo de usina.
Há algumas décadas, a matriz energética brasileira chegou a ter 95% de usinas hidrelétricas. Essa proporção diminuiu principalmente a partir dos anos 90, quando houve um aumento da proporção de usinas termelétricas e uma consequente redução na proporção de usinas hidrelétricas. Atualmente, a proporção é de aproximadamente 65% de hidrelétricas e de 28% de termelétricas.
As usinas hidrelétricas convertem energia hidráulica presente em determinados locais ao longo de rios em eletricidade, que pode ser transportada ao longo do sistema elétrico até os consumidores, mesmo que estes estejam localizados a grandes distâncias de onde a energia foi gerada. A denominação “hidrelétrica” (ou ainda “hidreletricidade”) foi cunhada juntando as palavras hidráulica e eletricidade, já que em praticamente todas as usinas ocorre conversão para energia elétrica.
A foto à esquerda mostra a Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, no rio São Francisco, entre os Estados de Pernambuco e Bahia.
As usinas termelétricas convertem energia química estocada em combustíveis fósseis, como o carvão, o óleo diesel e o gás natural, também em energia elétrica, pela praticidade oferecida por esta forma de energia para ser transportada a longas distâncias. Essas usinas operam praticamente com o mesmo tipo de ciclo termodinâmico (semelhante também ao ciclo de usinas nucleares), diferenciadas apenas pelo tipo de combustível utilizado para obtenção de uma fonte de calor.
A foto à direita (logo abaixo) mostra a Usina Termelétrica de Camaçari, dentro do Pólo Industrial de Camaçari, localizado a cerca de 60 km de Salvador, na Bahia.
As usinas hidrelétricas de maior porte exigem longos períodos de tempo (eventualmente até de algumas décadas) entre os primeiros estudos de concepção e sua entrada em operação, a custos iniciais bastante elevados. Entretanto, apresentam custos de operação e manutenção relativamente baixos ao longo de seu período de operação. Os custos de operação, principalmente, são baixos, pela disponibilidade natural do recurso energético.
As usinas termelétricas podem ser colocadas em operação após curtos períodos de tempo, se comparados aos períodos exigidos pelas hidrelétricas, entretanto apresentando altos custos de operação já que consomem combustíveis. Algumas termelétricas podem ser finalizadas em alguns semestres. Os custos de operação, entretanto, podem impor limites à sua utilização, usualmente estabelecidos por questões geopolíticas mais do que por questões técnicas.
Os impactos ambientais associados à construção e operação de usinas hidrelétricas ocorre principalmente devido à alteração de condições naturais com a implementação de barragens e ao armazenamento de grandes quantidades de água em reservatórios. Efeitos que podem, entretanto, ser compensados ou mitigados com razoável eficiência.
Os impactos ambientais associados à construção e operação de usinas termelétricas ocorre principalmente devido à queima de combustíveis fósseis. A emissão de poluentes e de gases de efeito estufa e seus efeitos sobre possíveis mudanças climáticas, entre outros fatores, exercem efeito inibidor quanto ao emprego desse tipo de empreendimento.
As usinas hidrelétricas estão sempre sujeitas à disponibilidade de recursos hídricos para gerarem energia em plenitude. Em outras palavras, elas oferecem risco de desabastecimento no caso de uma seca generalizada ao longo de todo o país. Por outro lado, alguns estudos apontam que existe uma complementaridade entre os regimes de chuvas nas várias regiões brasileiras, reduzindo bastante a chance de um desabastecimento da energia obtida de hidrelétricas.
As usinas termelétricas estão sempre sujeitas a questões geopolíticas relacionadas com a disponibilidade de combustíveis fósseis apenas em alguns locais do planeta. Desse modo, ocorrendo crises como a do petróleo de 1973 ou guerras como as do Golfo no início dos anos 90, os preços de combustíveis poderão variar bastante, afetando diretamente a viabilidade de operação das usinas. É um índice econômico externo que é inserido no cálculo da energia.
Um motivo para aumentar a proporção de termelétricas em relação às hidrelétricas é que elas incentivam a construção de hidrelétricas de menor porte, viabilizadas apenas sem a construção de grandes reservatórios. As termelétricas então entram em operação durante mais horas por dia ou por semana em períodos em que ocorrem menos chuvas, quando então ocorre menor produção de energia nessas usinas hidrelétricas de menor porte.
A pergunta proposta no título pode ter sido ouvida mais frequentemente nos últimos tempos por causa de uma situação hídrica incomum verificada atualmente no Brasil. Algumas chuvas ocorrendo com maior intensidade onde não vinham sendo observadas nas últimas décadas, enquanto outras áreas, mais bem servidas, vem sendo assoladas por secas inesperadas.
Respondendo então à pergunta (se é melhor depender de usinas hidrelétricas ou de usinas termelétricas)… é melhor depender de uma proporção ideal das duas.
Mas o que vem a ser “ideal”? Uma proporção que mantenha uma boa proteção contra secas e uma boa proteção contra variações de preços dos combustíveis.
Uma combinação entre 60% – 40% e 70% – 30% respectivamente para usinas hidrelétricas e usinas termelétricas parece ser bastante próxima de um valor ideal. Quando ocorrem períodos de menor disponibilidade hídrica, aumenta a demanda pela energia fornecida pelas termelétricas, como seria de se esperar. E o preço da energia para o consumidor final naturalmente será maior.
Por outro lado, os períodos com menor disponibilidade hídrica poderiam ser enfrentados com a água armazenada nos vários reservatórios existentes ao longo do território brasileiro e em reservatórios de usinas em construção e de usinas projetadas e aguardando início de obras. Os investimentos em novas usinas hidrelétricas não devem parar nunca!
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Este texto também foi publicado (parcialmente) pela seção dedicada à tecnologia do blogue português Obvious Magazine como é melhor depender de hidrelétricas ou de termelétricas?