Estamos os porto-alegrenses e os gaúchos há várias décadas sem grandes obras de infra-estrutura. Quero logo de saída ressaltar que por “grandes obras de infra-estrutura” devemos entender aquelas obras pensadas para os próximos vinte ou trinta anos. Obras planejadas para atender a demanda do momento acabam ultrapassadas quem sabe mesmo antes de serem inauguradas.
Qualquer obra no Brasil exige um esforço hercúleo de políticos, de gestores, de engenheiros, de empreiteiras, em todas as suas fases. Nem me refiro aqui a particularidades da política brasileira. Qualquer obra de engenharia de grande porte demanda vários anos entre o trabalho de projeto, realizado em um escritório de engenharia, até o corte da faixa de inauguração, quando a obra é entregue à comunidade.
Tivemos recentemente, por exemplo, a Terceira Perimetral em Porto Alegre, o novo Terminal do Aeroporto Internacional Salgado Filho, a duplicação da BR-101. São obras de inquestionável utilidade pública. Mas elas já não se encontram esgotadas ou mesmo próximas de suas capacidades máximas?
Na Terceira Perimetral encontramos com freqüência desagradável o trânsito bastante lento em vários trechos, em vários períodos durante os dias e mesmo à noite.
O Aeroporto Salgado Filho recentemente teve que recolocar em operação seu antigo terminal, para dar conta da demanda crescente por transporte aéreo.
É verdade que o panorama de crescimento atual é muito interessante, movimenta a economia e seria considerado “imprevisível” (apesar de necessário) quando essas obras foram planejadas. Não havia como prever o aquecimento da indústria automobilística ou o aumento da procura por passagens aéreas por quem antes não tinha essa perspectiva.
É justamente aí que os gestores precisam mudar seus paradiigmas!
Várias obras do passado poderiam ser citadas como exemplo. Obras que em suas épocas foram consideradas obras de ficção, pelas suas dimensões, pelo que pretendiam atender. Os pólíticos ou engenheiros que lançavam essas idéias eram taxados como loucos. Ou imaginava-se que teriam interesses excusos. A usina hidrelétrica de Itaipú, para ficarmos com apenas um exemplo, fora considerada uma obra megalômana em seu tempo; com o passar dos anos se viu que as projeções foram atendidas antes dos prazos esperados.
Precisamos então ver à frente dos próximos anos e planejar obras que não sejam esgotadas em pelo menos vinte anos. A duplicação da RS-118, há tanto tempo anunciada e ainda não plenamente iniciada, deveria na verdade ser uma triplicação ou uma quadruplicação. A nova travessia rodoviária do Guaíba deveria ter seis ou oito pistas. Precisamos de um outro Salgado Filho (já se fala, é verdade, em um aeroporto nos limites da região metropolitana). A ligação entre Porto Alegre e Pelotas também precisaria ser triplicada ou quadruplicada.
E vários outros exemplos poderiam ser citados… Independentemente dos eventos esportivos dos próximos anos, que colocarão o Brasil em uma vitrina internacional. Precisamos ter “olhos adiante”!