Uma tendência do nosso tempo é o desejo cada vez maior por mobilidade. Essa mobilidade pode ser traduzida por tudo que pode ser obtido, individualmente, com automóveis (apesar de uma irônica ‘imobilidade’ verificada em centros urbanos menos desenvolvidos), mas também é representada pelo que se obtém coletivamente com trens de alta velocidade e com aviões comerciais.
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Os ‘trens-bala’, como ficaram conhecidos os trens de alta velocidade, consistem em veículos que se movimentam sobre trilhos e que conseguem desempenhar velocidades muitos superiores às velocidades típicas dos trens tradicionais. Essa modalidade de transporte coletivo costuma ser adotada em regiões de grande densidade populacional, permitindo que residentes de regiões mais distantes possam alcançar em pouco tempo as regiões mais centrais, que usualmente concentram as áreas comerciais e as melhores oportunidades de trabalho.
Eles se encaixam em um anseio moderno por mobilidade, surgido talvez com a independência proporcionada por uma montaria ou por uma motocicleta e certamente pelos automóveis. A vida deixou de ficar restrita ao local onde se vive e atualmente não é raro encontrar pessoas que residem a distâncias bastante grandes de seus locais de trabalho. Nesse cenário, é necessário disponibilizar alternativas para que as pessoas possam realizar esses deslocamentos em prazos que não inviabilizem suas tarefas cotidianas e suas vidas pessoais.
Ao redor do mundo, existem muitas linhas consideradas rápidas que trafegam a velocidades relativamente baixas, como 200 km/h ou 250 km/h, ou mesmo 160 km/h (como é o caso dos serviços de trens rápidos do Chile). As mais rápidas, entretanto, operam com velocidades entre 300 km/h e 450 km/h, e mesmo velocidades superiores, na Europa, na América do Norte e na Ásia, mostrando-se vantajosas em comparação com linhas aéreas para viagens com duração entre 1 hora e 4 horas, para distâncias de até alguns milhares de quilômetros.
O recorde atual de velocidade foi estabelecido em 2015 por uma composição japonesa movimentando-se por levitação magnética. Essa composição percorreu 42,8 km e atingiu a velocidade de 603 km/h. O recorde para uma composição movimentado-se ainda convencionalmente sobre rodas foi estabelecido em 2007 pelo TGV francês, em um trecho de 140 km, no qual atingiu a velocidade de 574,8 km/h. Apenas como comparação, o recorde de velocidade sobre trilhos por um veículo tripulado especial (impulsionado por foguete) é de 1.017 km/h e o recorde absoluto, por veículo especial não tripulado, é superior a 10.400 km/h.
As linhas férreas para altas velocidades vêm proliferando pelo mundo, tendo surgido no Japão no início dos anos 60. Essa primeira linha japonesa é que valeu o apelido de “trem-bala” para essas composições de alta velocidade. Atualmente, existem trens de alta velocidade nos principais países desenvolvidos e em desenvolvimento, explorados por empresas públicas e privadas e associados com diferentes tecnologias. Apenas na Europa existem trens de alta velocidade em linhas inter nacionais e é na China que existe a maior extensão de linhas desse tipo, com um total de 19.000 quilômetros (dois terços do total mundial). É… dezenove mil quilômetros!
O Shinkansen da “série 0”, que aparece na foto à esquerda, foi o primeiro trem de alta velocidade e ficou conhecido mundialmente como o “trem-bala”.
As medidas necessárias para que uma composição ferroviária possa desenvolver altas velocidades ocorrem em duas frentes. De um lado, a linha férrea unindo duas estações a uma distância que não pode ser pequena deve se desenvolver com longos trechos retilíneos e com curvas bastante suavizadas. De outro lado, a composição deve ser projetada de modo a ter um alto desempenho aerodinâmico e de modo também a ser movida por um conjunto motor (usualmente elétrico e-ou a gás a diesel) com grande eficiência. Além disso, já estão sendo incorporadas tecnologias mais recentes, como a recuperação da energia consumida nas frenagens.
Um Shinkansen moderno, da série 500, como o que aparece à direita, que faz o trajeto entre Tóquio e Osaka em cerca de duas horas e meia e atinge aproximadamente 300 km/h.
Os Estados Unidos apresentam já há várias décadas uma infra estrutura para vôos domésticos bastante desenvolvida e competitiva. Isso fez com que a demanda e os esforços por trens de alta velocidade demorassem muito a surtir efeito. Existem linhas operacionais apenas na região nordeste do país, com previsão para novas linhas entrando em operação na Califórnia no início da próxima década.
Há iniciativas por linhas de alta velocidade em outros países do continente americano, mas o panorama atual de crise econômica deve adiar por vários anos a implementação desses projetos. No Brasil, existe um projeto para um trem de alta velocidade (pretendido para a Copa de 2016) ligando as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, que também deve ser substancialmente adiado devido à crise.
O TGV é operado pela França em várias linhas de alta velocidade em linhas domésticas e em linhas internacionais.
Na Europa, os italianos operaram as primeiras linhas de alta velocidade, mas os franceses atualmente ostentam as linhas mais avançadas, com seus TGV operando em linhas nacionais e também fazendo conexões com países vizinhos. O trecho entre Paris e Estrasburgo opera com uma velocidade média de 320 km/h, e é o trecho no qual foi estabelecido o atual recorde mundial para composições tradicionais.
O Eurostar é um trem de alta velocidade que conecta o Reino Unido à Europa continental, passando através do túnel sob o Canal da Mancha.
O futuro das ferrovias de alta velocidade reside na tecnologia que permite aos trens levitarem magneticamente sobre os trilhos ao invés de se movimentarem pelo emprego de rodas. É a levitação magnética que permitirá a implementação de linhas com velocidades médias e com velocidades máximas ainda maiores que as velocidades relativamente altas já praticadas atualmente.
Algumas linhas de alta velocidade já operam trens de levitação magnética na China e no Japão. Esta linha atende ao aeroporto internacional de Shangai.
Os custos para este tipo de sistema ainda se mostram proibitivamente altos e apenas algumas linhas na China e no Japão encontram-se em operação. Existem projetos propostos em vários países, em diferentes estágios de desenvolvimento. Os grandes centros urbanos ao redor do mundo precisam encontrar soluções para se manterem viáveis e os trens de alta velocidade podem contribuir para a sustentabilidade do desenvolvimento econômico.
Este é um campo da tecnologia que vem apresentando rápida expansão!
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Este texto também foi publicado (parcialmente) pela seção dedicada à tecnologia do blogue português Obvious Magazine como o ‘trem-bala’ e as tecnologias para o transporte de massas.