As energias renováveis surgem como uma alternativa para um mundo melhor, com menos impactos ao meio ambiente. Mas por que não vemos o mundo definitivamente abrindo mão do petróleo? Qual é a revolução realmente necessária para que as energias renováveis de fato substituam os recursos não renováveis para obtenção de suprimentos de energia?
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As energias renováveis vêm avançando bastante nas últimas décadas, em vários sentidos, em vários e inúmeros novos campos de aplicação. Economicamente, várias alternativas vêm alcançando viabilidade em diferentes e novas aplicações. Tecnicamente, um conjunto de novas tecnologias vêm permitindo que um grande número de novas alternativas sejam disponibilizadas.
A energia hidrelétrica foi a primeira fonte de energia renovável a ser empregada em larga escala. Desde meados do século XIX, quando também surgiram as primeiras redes de transmissão e distribuição de eletricidade, surgiram as primeiras usinas hidrelétricas. Com o tempo, surgiram também usinas hidrelétricas de grandes dimensões, atendendo ao crescimento da demanda por energia elétrica.
A energia eólica já vinha sendo considerada como alternativa para acionamentos mecânicos há alguns séculos. Mas apenas nestas últimas décadas, com o surgimento de grandes turbinas eólicas, com dezenas de metros de diâmetro, com dezenas de metros de altura, inseridas em extensas fazendas eólicas, é que se consolidou como alternativa para suprimento de energia aos grandes sistemas interligados.
A energia solar, em diferentes formas, também pode contribuir para suprimento de eletricidade para aquecimento de água e de ambientes fechados. O Sol é o grande motor da maioria das energias renováveis no nosso planeta, mas a radiação solar também pode ser aproveitada diretamente. Nessa modalidade, entretanto, a quantidade de energia disponível se mostra bastante limitada.
Com a redução dos preços dos módulos fotovoltaicos e o consequente crescimento da demanda por painéis fotovoltaicos, a energia fotovoltaica passou a ser considerada como importante alternativa para geração distribuída em ambientes urbanos, sobre os telhados de residências e de prédios, e para contribuição híbrida, instalada sobre estruturas flutuantes sobre o espelho d’água em reservatórios.
Além dessas alternativas, ainda há a energia nos oceanos, presente sob a forma de ondas oceânicas, tanto próximo ao litoral quanto em locais mais afastados, de correntes oceânicas e de variações de nível e de velocidade provocadas pelas marés. E há a energia em gradientes térmicos, em oceanos (em alguns locais específicos) e em locais com atividade vulcânica. Além de algumas outras alternativas ainda.
Mas então… qual é a revolução necessária para que as energias renováveis sejam adotadas em ampla escala?
Uma característica das energias renováveis é que elas fornecem energia em menores concentrações, se comparadas aos suprimentos que podem ser obtidos com recursos não renováveis. Enquanto as energias renováveis são capazes de fornecer (em instalações com pequenas e médias dimensões) potências da ordem de 300 W por m², as energias não renováveis podem fornecer até 100 kW por m².
As energias renováveis, portanto, se prestam melhor ao uso descentralizado, tendo assim um efeito descentralizador sobre as sociedades nas quais estiverem inseridas. Os recursos não renováveis, por sua vez, se prestam melhor ao uso centralizado e apresentam um efeito social de caráter fortemente centralizador.
De certo modo, esse efeito já aconteceu no século XX no Brasil. Ao longo do século XIX, várias regiões do País receberam imigrantes de várias origens. Esses imigrantes trouxeram consigo conhecimentos técnicos que, entre outras coisas, lhes permitiam por exemplo aproveitar energia hidráulica, em moinhos d’água, para acionamento de cargas mecânicas (para preparação de farinha entre outras aplicações).
Esses moinhos foram sendo abandonados com a chegada das linhas de transmissão, trazendo energia elétrica barata e com melhor qualidade (com tensão e frequência constantes) que os suprimentos de energia anteriores. Houve portanto um efeito centralizador provocado pelo emprego de energia hidrelétrica mas, em grande parte também, pela adoção de combustíveis fósseis.
Agora é necessário executar uma revolução no sentido contrário! Uma revolução com efeito descentralizador, com a adoção em ampla escala de recursos renováveis.
Agora, com novas e melhores tecnologias, com o domínio de melhores técnicas de administração, com uma conectividade entre as pessoas nunca antes disponível na história da humanidade, é necessário provocar um movimento migratório das grandes aglomerações metropolitanas para pequenos e médios centros urbanos e para comunidades rurais.
Assim será possível aproveitar melhor os recursos renováveis, tanto para suprimento de energia quanto para influência sobre as sociedades nas quais estiverem inseridos, causar menores impactos ao meio ambiente, promover o desenvolvimento econômico com maior inclusão social.
Assim será possível também aproveitar melhor os recursos não renováveis, que seguirão servindo como fonte de energia em situações de emergência, servindo como matéria prima para a produção de produtos plásticos, com diversas aplicações nobres, entre outras.
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Este texto também foi publicado (parcialmente) pela seção dedicada à tecnologia do blogue português qual é a revolução necessária para as energias renováveis?
Ver também:
– alguns locais com suprimento de energia 100% renovável
– nós realmente precisamos da energia de usinas nucleares?
– uma enorme usina fotovoltaica cobrindo o deserto do saara