a criatividade não pode ser domada por métodos de projeto

Um aluno teria dito: “é bom saber que podemos disciplinar a criatividade, que podemos dispor dela quando precisarmos!” ao se deparar com métodos modernos de projeto. As coisas na verdade não se mostram assim tão simples. O referencial mais correto é entender os seus processos íntimos relacionados com a criatividade e se dispor a acompanhar seus fluxos naturais.

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Em uma disciplina sobre Métodos de Projeto em um curso de graduação de engenharia, um aluno disse: “é bom saber que podemos disciplinar a criatividade, que podemos dispor dela quando precisarmos!” Essa não é toda a verdade. Os métodos permitem identificar o estágio do processo de projeto no qual a criatividade será melhor recebida. Mas o método não fornece algo como um botão de um aplicativo que permita acionar a criatividade quando se bem entende.

Buscando opiniões em ambientes diversos, estudantes de diferentes níveis de cursos por exemplo de arquitetura e de artes plásticas poderiam eventualmente assumir posicionamentos diferentes. É claro, eles lidam com a criatividade e com o processo criativo de modos que podem ser bastante diferentes entre si e mesmo diferentes do modo como a criatividade é empregada em projetos de engenharia.

Em comum, todos entendem que a criatividade não é algo fácil de se lidar ou que esteja à disposição quando necessária. A criatividade está relacionada a processos internos e externos e se manifesta seguindo seus próprios preceitos, em função de processos ainda não completamente entendidos e que levam a resultados diferentes em pessoas diferentes.

O mestre renascentista Leonardo Da Vinci pode ser lembrado para ilustrar essas questões. Ele encarnou uma mistura interessante de curiosidade e de criatividade, atuando em várias áreas, algumas delas bastante diferentes entre si. Ele sempre demonstrou muito cuidado com a precisão de seus resultados e ímpeto na busca das melhores técnicas para resolução de problemas.

O arquiteto galês John Chris Jones contribuiu nesse processo, sistematizando em seu livro Design Methods os métodos clássicos de projeto e também acrescentando apontamentos importantes na caracterização das etapas de projeto e de métodos modernos de projeto. Esse livro resultou de um trabalho extenso nos anos anteriores sistematizando temas relacionados com atividades de projeto.

Desse modo, qualquer atividade de projeto apresenta três fases distintas. Uma primeira fase, denominada como divergência, na qual são buscadas informações relativas ao tema do projeto. Soluções anteriores, projetos equivalentes, tentativas sem sucesso. A segunda fase, de transformação, é onde ocorre o processamento das informações encontradas na primeira fase e do conhecimento dos envolvidos no projeto no sentido de sintetizar soluções. A terceira fase, de convergência, é onde ocorre o detalhamento das soluções identificadas.

É a criatividade o motor das soluções, que devem ser estabelecidas na fase de transformação. Mas a criatividade também é bem vinda durante a etapa de convergência, quando as soluções que foram estabelecidas devem ser elaboradas até sua versão final. O aprimoramento dos detalhes nas soluções estabelecidas é o fator que garantirá lustro adequado ao resultado final.

A criatividade é o resultado de um processo que não é bem conhecido e que talvez nunca seja conhecido por completo ou mesmo bem entendido. A criatividade se manifesta de modos diferentes para cada pessoa. É o resultado (de um modo muito resumido!) de tensões internas e da interação com o meio externo. Talvez muitos interpretem como sendo o resultado de intervenção divina.

O caminho para um melhor uso da criatividade é o caminho do auto conhecimento. O que pode ser alcançado com método… um melhor auto conhecimento de seus fluxos internos e um melhor auto conhecimento de seu relacionamento com questões externas. Isso não exclui obviamente que algumas pessoas tenham criatividade à sua disposição mesmo sem querer ou mesmo sem precisar dela.

É interessante observar como a criatividade pode ser interpretada como a saída de um processo do estilo “caixa preta”, com entradas dos mais variados tipos, dependendo de cada projetista, que podem ser alimentadas ou potencializadas adequadamente dos mais variados modos e inclusive de modos diferentes em épocas diferentes da vida de cada um.

É interessante observar também como apenas a criatividade por si não garante a qualidade final de um trabalho. A criatividade é um ingrediente fundamental das várias etapas de um projeto, mas o resultado do trabalho criativo precisa ser avaliado e reavaliado exaustivamente até que se alcance uma qualidade considerada necessária e suficiente para o produto final.

É uma associação competente e criteriosa entre criatividade e seletividade que poderá garantir as melhores soluções a serem apresentadas por um projetista no atendimento de determinada demanda. A criatividade deve ampliar o leque de soluções possíveis. A seletividade, principalmente durante a etapa de refinamento ou de detalhamento das soluções, que encontrará as soluções viáveis.

Mas… não dizem que o divino está justamente nos detalhes!?

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Este texto também foi publicado (parcialmente) pela seção dedicada à design do blogue português Obvious Magazine como a criatividade não pode ser domada por métodos de projeto.